O “Jogo da Onça” é um jogo de presas contra predador, um estilo de jogo assimétrico em que um jogador controla as presas, que estão em maioria numérica, porém, apenas o predador tem a capacidade de eliminar as presas. O objetivo das presas é bloquear a movimentação do predador.
Neste jogo, cuja origem é atribuída aos indígenas brasileiros, o tema é uma onça tendo que lidar com vários cães que estão caçando-a.
Porém, originário do Nepal, existe o Bagha Chall, um jogo de tigres contra cabras, com muita similaridade nas regras e um tabuleiro quase idêntico.
Além da semelhança dos tabuleiros, ambos os jogos utilizam uma mecânica que também é comum em vários jogos espalhados pelo mundo: O jogo de caça, em que várias presas lutam contra um predador mais poderoso.
Essa mecânica também está presente em “Kaooa” (Índia), “Raposa e Gansos” (Europa), Leopardo e Vacas (Sri Lanka), Jogo da Lebre (Espanha), Jogo do Urso (Império Romano), e mais alguns.
Essa semelhança levanta algumas dúvidas: Todas essas civilizações, de alguma maneira, estabeleceram contato?
Quando analisamos o Hnefatafl, e a expansão Viking durante o século X, conseguimos entender como esse jogo foi levado para novas civilizações, onde ele foi modificado e gerou derivados, como o Brandubh e o Ard Ri.
Algo semelhante ocorreu com o Jogo da Onça? Algumas fontes o citam como sendo originário dos Incas, com um puma substituindo a onça.
Poderia o estudo deste jogo de tabuleiro servir de indício para rotas marítimas não documentadas entre esses povos?
Outra hipótese seria a fraude. Alguém, inspirado pelo Bagha Chall, poderia ter criado uma adaptação e divulgado como sendo um jogo indígena como uma estratégia de marketing. Afinal, o conceito de cães caçando onças sendo utilizados pelos indígenas não parece coerente, afinal, cães domésticos não são vistos como parte da cultura indígena.
Porém, essa teoria é derrubada por várias evidências.
Existem relatos do Jogo da Onça (também chamado de “Adugo”) em tribos diferentes (Bororo, Manchineri, Guaranis e Meuri), onde eles jogam em tabuleiros riscados no chão, utilizando pedras como peças. Além disso, apesar da pouca divulgação, cachorros fazem parte da comunidade indígena, assim como da nossa.
Mesmo antes do contato com os europeus, escavações revelaram a presença de canídeos convivendo com os índios. Até hoje eles estão presentes nas aldeias.
E existe também o fato de a mesma ideia surgir em diferentes civilizações.
Um dos exemplos mais práticos é o arco e flecha, que, aparentemente, foi descoberto de maneira independente por várias civilizações.
Outro artefato que causa surpresa com relação à origem é o bumerangue. A forma original desse artefato, o bastão de arremesso, também foi localizado em vários pontos da Europa.
Uma das teorias da origem do xadrez também é essa. O “Xadrez ocidental/internacional” pode ser a unificação de variações do jogo que surgiram em várias partes do mundo (Turquia, China, Arábia, Coréia, Japão, Índia, Tailândia, Indonésia, Etiópia e Europa), porém, existe uma teoria de que todas essas versões do Xadrez são variações do Xadrez Indiano, que foram circulando/mutando pelo mundo até se unificarem novamente no Xadrez Internacional.
Com o Jogo da Onça e o Bagha Chall, também ficamos com uma dúvida: O jogo surgiu de maneira independente tanto entre os indígenas como entre os nepaleses, ou algum destes jogos atravessou o oceano para servir de inspiração para o outro povo.
Para experimentar esses jogos, a Confraria dos Observadores disponibiliza um produto especial. Aproveitando a semelhança entre os formatos, foi desenvolvido um tabuleiro em que ambos os jogos possam ser jogados. Clique aqui para conhecer.
Quem surgiu primeiro, o “Jogo da Onça” ou o “Bagha Chall”?
Revisão: dfmcosta