Modern Art: Quando o jogo imita a vida – Impressões

Acredito que não sou só eu que me sinto um indigente cultural ao ver um quadro, que parece ter sido pintado por uma capivara besuntada, ser vendido por milhares de dólares em alguma galeria europeia.

Modern Art é um jogo de leilões, em que os jogadores se revezam como leiloeiros e compradores de obras de arte. No final das fases, o valor de cada obra é decidido pela quantidade de obras que foram negociadas daquele artista.

Quando essa mecânica de pontuação foi explicada, eu percebi que o que mais importa no mercado de arte é o próprio mercado. Ninguém se importa com a arte.

Depois que os jogadores compram suas primeiras obras de um artista, eles passam a tentar colocar mais obras daquele artista no mercado: Os jogadores tentam ditar a moda da arte com base nas obras que eles têm mais acesso.

Com isso, a mesa se torna um ambiente competitivo, com os jogadores propondo alianças para valorizar seus artistas e boicotes para desvalorizar artistas comprados por adversários.

E não é só no resultado de cada fase (com a atribuição de valor para cada artista) que se consegue lucrar. Durante os leilões, os jogadores podem vender caro as obras que estão em alta, mas que podem terminar a rodada em baixa por conta de boicotes dos outros jogadores.

Também é importante nos leilões, saber calcular até quanto vale apostar em uma obra. Sabendo quais obras você poderá vender e quantas rodadas de leilão podem acontecer, os jogadores podem arriscar valores que parecem absurdos no começo da rodada, mas que pagarão muito bem quando essas obras forem vendidas no final de cada fase.

E para complicar ainda mais as contas, as cotações dos artistas são cumulativas. Jogadores podem ser enganados por não perceberem que os interesses dos jogadores podem até inverter essas classificações. O que era luxo ontem, é lixo hoje.

Modern Art é uma aula lúdica sobre o comércio de obras de arte, onde manipulação de mercado e matemática são as qualidades artísticas que realmente importam.

O jogo é do designer Reiner Knizia, de 3 a 5 jogadores, cada partida dura por volta de 45 minutos e foi trazido ao Brasil pela Galápagos Jogos.

Prós:

  • Regras simples: com poucas explicações, o jogo já começa;
  • Ações simultâneas: os jogadores participam em todas as vezes de jogo, como leiloeiros ou compradores;
  • Confrontos diretos: os jogadores se enfrentam a cada lance;
  • Desafio satisfatório: é divertido ficar especulando e calculando valores para buscar o lucro no final.

Contras:

  • Não têm, mas como o editor pediu, vou cavar problemas com alguns tipos de jogadores;
  • Regras simples, mas com mecânica complexa; alguns jogadores não conseguem prever como os valores dos artistas sobem e descem, e não entendem o que precisam fazer para ganhar o jogo;
  • Desafio matemático: se você tem preguiça de fazer contas, você vai ser o pato da mesa.

Texto: Roj Ventura

Revisão: dfmcosta