Hnefatafl – Você pode estar jogando errado

Meu primeiro contato com o Hnefatafl foi em um evento de divulgação de jogos de tabuleiro no SESC de Catanduva, há algumas décadas. Pela característica das peças, acredito que a Mitra Jogos pode ter tido alguma relação com aquele evento (as peças eram de madeira).

Não tão recentemente assim, vi os filhos de Ragnar desafiarem os nobres forasteiros para uma disputa de Hnefatafl no seriado “Vikings”. Deu vontade de jogar de novo e eu fui atrás de mais informações sobre o jogo para montar meu tabuleiro.

Na época, eu já havia desenvolvido vários cardgames e esse seria um jogo com a necessidade de tabuleiro. As peças não seriam problema, em mercados locais eu tinha acesso à contas de vidro que cumpriam muito bem essa função, porém, o material do tabuleiro ainda demandava alguma pesquisa.

Em conversa com a Digitale, a gráfica de Catanduva que produz grande parte dos meus jogos, foi-me apresentada a possibilidade de impressão em lona, uma solução mais barata e mais eficiente do que experimentos anteriores que eu havia feito em tecido.

A ideia inicial era perfurar as bordas do tabuleiro para que ele pudesse ser amarrado pelas bordas como se fosse um saco, para servir de tabuleiro quando aberto e embalagem das peças quando fechado.

O resultado não agradou, o saco ficou bem desajeitado, porém, a lona aberta como tabuleiro funcionou, e a ideia de utilizar o tabuleiro como embalagem acabou funcionando com o tabuleiro sendo enrolado com as peças por dentro e uma tira de corino amarrando o pacote.

Finalmente, pude voltar a jogar o Hnefatafl e assistir partidas de outros jogadores que queriam conhecer o jogo.

Depois de algumas partidas, começamos a chamar o jogo de “Ninguém segura esse Rei”, pela facilidade de ganhar com o rei.

Isso acontecia porque o Hnefatafl é um jogo assimétrico, os jogadores estão em condições diferentes. O jogador com os vikings está em maioria e precisa capturar o rei. O jogador com o rei está em minoria e precisa chegar em um dos cantos do tabuleiro.

Apesar de comentários afirmando que os vikings levam vantagem no jogo, o rei sempre achava um caminho para fugir depois que algumas peças tinham sido eliminadas do tabuleiro.

Voltando ao desenvolvimento de jogos, o Hnefatafl me inspirou a pesquisar outros jogos clássicos. Entre Picarias e Kaooas, eu acabei achando versões reduzidas do Hnefatafl, o Brandubh, um jogo Irlandês, o Ard Ri, um jogo Escocês, e vários outros, como o Magpie e o Tawlbwrdd, todos eles registrados nas ilhas do atual Reino Unido.

Gráfico, Gráfico de bolhas

Descrição gerada automaticamente


Foi muito intrigante achar diferentes jogos com a mesma mecânica. Seria essa uma tendência surgindo naturalmente entre game designers da época que nem se conheciam?

Mapa

Descrição gerada automaticamente

Estudando a expansão dos Vikings, o mistério foi resolvido. Provavelmente, os Vikings trouxeram o Hnefatafl durante as suas colonizações realizadas nas ilhas britânicas, e buscando alguma agilidade no jogo, foram feitas adaptações para reduzir seu tamanho sem perder a essência estratégica.

Também pesquisei as regras desses jogos, e foi aí que percebi que algo estava errado nas regras do Hnefatafl que eu havia pesquisado.

Nessas variações do Hnefatafl, o rei apresentava comportamentos diferentes. No Brandubh, o rei não pode capturar peças adversárias, no Magpie o rei só pode andar uma casa por vez.

Pesquisando mais sobre o Hnefatafl, achei algumas versões de regras que já haviam corrigido o problema do “Super Rei” que eu tinha no meu Hnefatafl. Elas utilizam o mesmo conceito do Brandubh, o rei não ataca peças adversárias.

Infelizmente, não existe um consenso entre os relatos. Alguns utilizam essa limitação do rei para tentar equilibrar o jogo, outros, assumem o desequilíbrio e jogam em cima da aposta de quem consegue escapar com o Rei em menos jogadas.

Enquanto não surgir algum documento detalhado daquela época sobre as regras do jogo, teremos que conviver com essa dúvida.

Na minha versão do Hnefatafl, que levo para eventos e está à venda no site da Confraria dos Observadores, eu inseri uma “seleção de rei”. Antes de iniciar o jogo, os jogadores combinam qual rei será utilizado.

Caso um dos jogadores seja mais experiente do que o outro, o jogador novato pode jogar com o “Super-Rei”, que é a opção em que o rei pode atacar adversários e precisa ser cercado pelos quatro lados para perder.

Para uma disputa mais equilibrada, o jogador do rei pode escolher entre o “Rei Padrão” (não pode atacar), o “Rei Agressivo” (o rei pode atacar, porém, perde se for cercado por apenas dois lados) e o “Rei Pesado” (pode atacar e precisa ser cercado pelos quatro lados, porém, só pode andar uma casa por vez).

Criança sentada em cadeira

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Essas opções permitem diferentes estilos de jogo. Com o Rei Agressivo, o jogo é mais dinâmico, com distrações sendo mais fatais para ambos os jogadores, e com o Rei Pesado, é necessário um controle maior do tabuleiro para ganhar o jogo.

Em eventos que participamos, o tabuleiro do Hnefatafl chama a atenção pela disposição das peças, fugindo do padrão um lado contra o outro: são as peças da borda contra as peças do centro. Suas regras simples permitem que qualquer visitante possa experimentar o mesmo jogo que os Vikings jogavam há mais de 15 séculos.

Revisão: dfmcosta