[RobotCrônicas] Fresco – A história do meeple Leonardo

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Bom dia, para quem não me conhece eu sou Leonardo, aspirante a artista plástico.

Vou contar um pouco sobre os eventos que ocorreram essa semana em minha vida, acontecidos e oportunidades jamais imaginadas por minha mente.

A semana começou quando um famoso pintor precisou de ajuda para a mais nova reforma da cidade. O bispo convidou alguns mestres pintores para a criação de um belíssimo afresco no teto da capela e dar um tapa no altar da capela também. 

A promessa era simples, pouca grana, mas muita fama para aquele pintor que tivesse maior destaque.

Com isso a oportunidade bateu na porta. Na verdade quem bateu na porta foi um desses mestres pintores recrutando uma equipe de cinco jovens aprendizes para efetuar tarefas importantes para tal empreitada. 

A manhã seguinte começou com o acordar às 7h, o que julgamos cedo, porém justo. Ninguém ficou reclamando de sono durante o dia.

Minha primeira designação foi visitar as tendas em busca de pigmentos, notei que algumas barracas já estavam fechadas, sinal que alguém madrugou para comprar os materiais. Não posso reclamar, a noite de sono foi boa. A oferta dos pigmentos já era relativamente escassa, porém por se tratar de sobras, consegui um belo desconto. Sabia que isso contentaria o mestre. 

Basicamente eu trouxe de lá o que tinha disponível, não era o ideal, mas certamente tinha que servir.

Chegando no atelier o mestre nos chama para fazer uma visita na capela, dar início às pinturas e analisar a movimentação por lá. O bispo nos recebeu muito bem, mas sempre que precisávamos de sua atenção para algum detalhe do afresco, um tálere acabava escorregando do bolso do mestre. Achei estranho, mas preferi não perguntar. Só depois de algum tempo fui entender que para sermos bem atendidos, bem notados, precisamos fazer de tudo para chamar a atenção. É o preço que se paga pela fama.

Saindo de lá, voltamos para o atelier e então ganhamos um lanche do mestre, afinal, saco vazio não pára em pé. 

Mas como nem tudo são flores, assim que dei a primeira mordida ouvi alguém batendo palmas na entrada. Era uma família que buscava a retratação de seu atual momento feliz. Pagariam pelo esboço, pena que não tínhamos mais telas disponíveis. Ainda assim, aqueles poucos trocados no fim ajudam na compra dos pigmentos. O lanche realmente teve de esperar.

Após alguns ajustes, o desenho finalmente ficou pronto e quase não tive tempo de terminar meus afazeres, fui encarregado de um dos processos mais bonitos e importantes da pintura, a mistura de cores. 

É algo realmente mágico de se ver, e como os pigmentos são raros em nossas redondezas, saber que conseguimos tons tão cheios aos olhos nos reconforta. Mais uma vez tive a certeza que o mestre iria aprovar o serviço e também a certeza que eu estava no caminho certo. Ajudar o mestre iria me tornar um artista melhor.

O início da noite foi mais um momento mágico nessa jornada, pois o mestre achou que seria de nosso agrado ver uma boa peça cênica. E ele tinha razão, o espetáculo foi um misto de risos, choros, incontáveis emoções. Aquela trupe realmente mexeu conosco. Na saída acabamos conhecendo alguns jovens que também queriam ajudar, mas estavam perdidos em como começar. 

No próximo dia o mestre se mostrou mais uma vez bondoso, esquecendo o cantar do galo e nos chamando somente às 8h. 

Isso sim é uma noite mágica, dormimos feito anjinhos, disposição total para o dia, e nosso nível de felicidade estava no máximo. Isso refletiu logo ao acordar, pois notamos a presença de um daqueles garotos na frente do atelier, oferecendo ajuda. Não tinha como recusar, toda ajuda é bem vinda.

Nesta manhã partimos diretamente para a capela, estávamos munidos de pigmentos de todas as cores, faríamos um estrago naquele teto. 

Mas para a surpresa e desespero do mestre, uma quantidade significante de afresco havia sido completada, e isso bateu um certo desespero em seu coração. Pintamos tudo o que tínhamos condições, gastamos cada uma das cores e voltamos para o atelier mais leves, carregando uma quantidade mínima de material. 

Lá o mestre, agora com o olhar mais cerrado, disse em profundo tom que precisaríamos fazer um corre na manhã seguinte, nem que isso tivesse um preço mais elevado a se pagar. Precisaríamos acordar cedo, comprar o máximo de pigmentos que fosse possível carregar e partir para a pintura da capela. 

Com a ordem dada, fomos desenhar alguns retratos, a fim de erguer o maior dinheiro possível para o dia seguinte.

Dessa vez fomos para cama cedo, sem direito a sentir as emoções todas do teatro que visitamos na noite anterior. 

Parecia que tínhamos deitado quando o mestre nos fez um panelaço já às 5h, antes mesmo do galo aquecer seu gogó. Acordar cedo já sabíamos que iria acontecer, mas tanto assim foi insuportável para nosso novo colega, que preferiu se mandar dali. Mas a perda dessa ajuda não foi a única do dia. Nossa força tarefa estava desfalcada, pois um dos cinco originais acabou ficando na cama. Suas palavras, graves e profundas nos alertavam que ele por ali ficaria, perderia o salário do dia, mas não brigaria com o mestre. Julgou uma troca justa. O mestre não ficou nada contente, mas sabia que não teria tempo para resolver tal situação naquele momento . O tempo urgia e cada segundo contava. 

Mas como eu comentei, a falta de funcionários não era o único peso a se pagar, pois os pigmentos recém colocados nas banquinhas tinham um preço elevado, mais opções de oferta, mas mais custosos. Dessa vez pagamos caro, mas compramos material suficiente para algumas boas pinturas.

Chegamos na capela e desta vez ela estava vazia, intacta em relação ao dia anterior, o mestre tremeu de alegria em ser o primeiro a colocar suas mãos ali. Pareceu até mais inspirado, as cores assumiram um brilho diferente, destacavam-se das outras. E só quando nosso suor já preenchia o chão, os outros mestres começaram a chegar, com os aprendizes em sua sombra. Nosso dia foi tão produtivo que sabíamos que por mais simples que fosse o trabalho das outras equipes, teríamos somente mais um dia de trabalho. 

Na volta ao atelier nos separamos em dois grupos, metade iria desenhar os retratos, quem sabe hoje não conseguiríamos até pintar umas telas, e a outra metade iria para a sala das misturas de pigmento, afinal, todas as partes do afresco sobrando precisavam de tons secundários. 

Com a chegada da noite, o mestre, que sabia que havia nos feito trabalhar igual loucos, nos sugeriu a visitação ao teatro, mas o sono era tão forte que preferimos ficar e descansar. 

Nesse momento tivemos a notícia de que o dia seguinte seria o último dia de trabalho, o bispo queria o teto entregue, pronto ou não. Pelas nossas contas poderíamos acordar cedo e finalizar as poucas partes do teto que restavam, ou poderíamos arriscar acordar mais tarde e verificar se havia alguma parte do afresco sobrando. Mas a verdade é que naquele momento isso pouco importava, pois a reputação adquirida até ali pouco mudaria em relação às últimas pinturas. 

Sem contar que o altar estava praticamente intocado e mesmo não chamando tanta atenção quanto o teto, poderíamos usar nossos materiais sobrando ali mesmo.

Fomos dormir com essa incerteza, será que o mestre nos acordaria cedo e prejudicaria  nosso tão importante descanso, ou nos deixaria dormir mais e ficar novamente com as sobras?

Texto: Lomba

Revisão: dfmcosta